quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O limite foi o mundo

Eram 11 guerreiros de branco. Tal qual o Real Madrid de Puskas. Tal qual o Santos de Pelé. Comparação um tanto quanto pretensiosa, claro, especialmente se levarmos em conta que, naquela manhã do dia 17/12/2006, não havia no meu amado Internacional um craque consagrado mundialmente como houvera outrora.

“Sabe”, disse meu pai, na véspera, “eu ficaria mais tranqüilo se o time que entrasse em campo amanhã fosse aquele de Manga, Figueroa, Falcão...”. Pensei um pouco e respondi: “Mas, pai, não foram Manga, Figueroa e Falcão que ganharam a América; foram Clemer, Fabiano Eller, Fernandão e companhia.” A minha resposta, supostamente irrepreensível, agradou mais ao velho colorado do que a mim. Eu lembrava que o time que conquistara a América fora desfalcado de quatro dos nossos principais jogadores. Havia opções para a ausência de Jorge Wagner, Bolívar fora bem substituído por Índio e Iarley assumira a posição de Rafael Sobis com maestria, mas Tinga deixara uma lacuna que, até pouco tempo antes do torneio, eu pensava que não seria preenchida.

Mas houve o jogo contra o Palmeiras. E houve Pato. Um mês antes do Mundial, uma das mais imponentes estréias da história do futebol brasileiro. Contra o Palmeiras, na própria casa do alviverde imponente, onde desfilaram Ademir da Guia e Leivinha, o rapaz de 17 anos tabelou com Fernandão e, a 1 minuto e meio de jogo, marcou um golaço de centroavante. Em meio a dribles, cabeceios e arrancadas, viriam mais três; todos com sua participação, dois praticamente seus. Abel Braga o retirou logo no início do segundo tempo, para evitar que os impotentes zagueiros palmeirenses arrancassem suas pernas, a única solução contra a mágica do mais novo prodígio do Celeiro de Ases. Final: Palmeiras 1, Alexandre Pato 4.

Com ele, resolvia-se o problema da ausência de Tinga. Fernandão era recuado, para tentar repetir com o garoto e Iarley no Japão a mesma fórmula vitoriosa do jogo contra o Palmeiras. E assim foi feito: já no jogo contra o egípcio Al Ahly, o capitão colorado lança Pato entre os zagueiros, que se atrapalham e deixam-no livre para desferir a batida forte, seca e precisa mais uma vez, no canto aberto à esquerda do goleiro inerte. Pato se afirmaria de uma vez por todas como craque ao dominar a bola e correr pela lateral equilibrando-a sobre o ombro, diante de um mundo boquiaberto com o audacioso futebol do rapaz. Minutos depois, ele foi substituído pelo também garoto Luiz Adriano, que confirmaria com um gol de cabeça a vitória e a vaga colorada na final.

O adversário era o temido Barcelona, internacionalmente festejado como o melhor time do mundo – e com muita propriedade. Entre as estrelas, Zambrotta, campeão mundial pela Itália; o espanhol Iniesta; o luso-brasileiro Deco; e, com a camisa 10, duas vezes escolhido melhor do mundo, conhecido como o novo Maradona (segundo o próprio!), o gaúcho Ronaldinho.

Velho adversário colorado, Ronaldo jogara no time da Azenha havia pouco, no início da sua carreira, quando já era possível notar onde seu futebol o levaria. E ele fazia questão de mostrar seu talento contra o meu Internacional, que sofreu alguns anos em suas mãos. Acontece que sua conturbada saída do estádio olímpico o deixou em dívida com os gremistas; e o garoto da Vila Nova estava disposto a pagá-la na mais perfeita das ocasiões: a final de um campeonato mundial, onde poderia levar seu Barcelona ao título inédito e impediria o seu eterno rival porto-alegrense de igualar-se ao tricolor gaúcho.

E os dois entraram no gramado. O time catalão, não bastasse todo o resto, havia goleado espetacularmente o América do México na outra semifinal, em contraposição à vitória apertada do Internacional sobre o time egípcio. Os 11 guerreiros levavam consigo a apreensão de 23 anos da torcida, a ânsia de igualar-se ao rival, mas também duas certezas: a de que futebol não se faz com lógica – o gigante catalão pode ser derrubado, assim como o grande Inter de 80 fora batido pelo Nacional de Montevidéu; e a de que derrotar times listrados é especialidade colorada.

O jogo começa. Os guerreiros de branco se empenham como nunca. O adversário é poderoso – o toque de bola é fluente e os jogadores ocupam cada espaço do campo. Assim como os de branco! E os espaços para a equipe azul e grená começam a se fechar. O Inter começa inclusive a arriscar conclusões. As estrelas Pato e Fernandão não aparecem muito, mas se entregam com firmeza na marcação! O jogo amorna, e as expectativas de goleada por parte da imprensa de todo o planeta começam a se frustrar.

Fim do primeiro tempo.

Os times voltam a campo, e é o Colorado que sai com a bola. Quando o apito soa, percebe-se que está em campo o Internacional mais determinado de todos os tempos. Ronaldinho assiste a cada drible seu ser desarmado por um gigante na lateral direita; Ceará sabe que marca o melhor jogador do mundo, tão logo se vê transformado no maior lateral do mundo. O Barcelona consegue alguns arremates perigosos para o gol, mas o time gaúcho realiza a maior atuação defensiva já vista no Japão. Tudo parece estar se encaminhando, quando Fernandão sente câimbras. Quase simultaneamente, Índio cai ensangüentado, com o nariz quebrado acidentalmente por Edinho. Há uma substituição a se fazer, pois Vargas entrara no lugar de Alex e Alexandre Pato – valente, mas de atuação discreta – cedera lugar a Luiz Adriano. Fernandão resiste em um primeiro momento, mas desaba em seguida. Entra em seu lugar Adriano. O vaiado e malquisto Adriano Gabiru. O Inter, que marcou suas conquistas com gols de ídolos como Figueroa, Falcão e Tinga, via-se no campo de Yokohama sem dois de seus principais jogadores.

Mas o Inter é o clube do Povo, da superação! E Índio, com um curativo no nariz, levanta-se bravamente. Ao parar um ataque, finta Ronaldinho e afasta a bola da defesa. Adriano pula e cabeceia para Luiz Adriano no meio de campo. Este torneia de cabeça e lança Iarley no ataque. O magnífico atacante domina e vê em sua direção o enorme Puyol, zagueiro da seleção espanhola. O capitão do Barça avança sobre o cearense, mas, afoito, toma por baixo o toque. O drible. Pelo meio das pernas do zagueiro, o cometa Iarley deixa para trás a Catalunha inteira. A Espanha inteira. O Mundo inteiro. Ao avançar para o gol, vê Luiz Adriano, à sua direita, puxando para si a marcação. E, à esquerda, Gabiru. O passe é magistral; deixa o zagueiro caído e a bola limpa para Adriano dominar com o lado externo do pé direito. No toque seguinte, a batida no canto. O goleiro chega a espalmar, alterando a trajetória da bola, que sobe. Os segundos entre o chute e seu destino final viram anos. Anos sem títulos. Anos de conquistas do adversário. A imagem da televisão pode ser enganosa, todos sabem disso. Mas ela cai. E estufa as redes.

O grito preso nas gargantas vermelhas por todo o mundo é libertado. É gol!!! Colorados não acreditam. Eu, pelo menos, não acredito. O gol esperado há, pelo menos, 23 anos. O gol que eu esperava desde que comecei a ser colorado. O gol que havia de acontecer, cedo ou tarde, para suprimir uma injustiça futebolística tão grande. Não penso no adversário tricolor, penso nos colorados. Colorados que, como eu, desejavam este momento secretamente, mas nunca exclusivamente. Colorados que iam ao estádio contentes apenas em reverenciar um passado brilhante, apenas em acompanhar vitórias singelas. Torcedores que nunca pensaram que este momento chegaria, mas que mantiveram-se envolvidos no manto vermelho. Torcedores que perderam o emprego, amigos, familiares, mas não a paixão. Torcedores que não almoçavam para levar seus filhos ao Beira-Rio.

Quis o destino que o uniforme vermelho, festejado por todos os grandes títulos anteriores do clube, desse lugar ao branco; quis o destino que um clube que já contou com Tesourinha e Paulo César Carpeggiani alcançasse a glória máxima com um elenco muito mais desacreditado; finalmente, quis o destino que o jogador contestado, vaiado, vilipendiado, entrasse no lugar de um dos maiores ídolos do Internacional de todos os tempos para marcar seu gol e selar nosso compromisso com a história.

O Inter de 2006, sem um elenco galáctico, jogou no limite. E o limite foi o mundo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Droga...

Eu não escrevo mais. Não sei o que é, se falta de tempo ou de vergonha na cara, mas não venho mais aqui. E, quando venho, é para um desabafo insone. E curto.

Muito curto.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Tired

3 o'clock in the morning. I'm having a very important test in college in a few hours and I don't want to study, sleep or write in portuguese.
Enough. I'm through of this year. OK, I have no money problems, an awesome family, some awesome friends, a beautiful girlfriend. I love them, they love me, nobody's sick, bla, bla, bla...
Enough, nevertheless. It has been a nightmare. Literally – I'm having constant bad dreams about the uncertainty of my professional choice. I had a working experience, with an impolite illiterate woman, doing a job a 4 year old could perform. When I quit, people started casting me ugly looks, as if they were saying I shouldn't give up at any cost. Sometimes I think they're right. But how come I'm only 20 years old and are already so deeply comitted to a career I'm not even sure I want? That strange feeling that the journalist is the prostitute of mass media companies keeps haunting me. There is a difference, a professor said to me once, between selling your work and selling your conscience; but how tangible is that difference? And, worse, will I be able to afford myself – and a family, perhaps – if I keep my conscience intact?

Don't know. Anyways, time to get some sleep.

domingo, 2 de setembro de 2007

Hilários

Esses americanos realmente me fazem rir... às vezes.

Pois eis que o senador republicano Larry Craig, do estado de Idaho, é envolvido nesta semana que passou em um escândalo sexual. Nossa memória pode nos remeter imediatamente a Kenneddy (o John, pois Bobby ganhou recentemente um filme no qual é bonzinho) ou a Clinton, nos famosos casos de felação no salão oval da Casa Branca. Pois nossas lembranças, como fazem muitas vezes, enganam; o senador em questão foi associado a assédio sexual em um banheiro... masculino!

O policial, no seu respeitável papel de agente da segurança pública, denunciou o senador e o prendeu no local como vítima de uma investida "lasciva", com "clara intenção sexual". O nobre senador se defendeu dizendo que nada tinha feito de errado e que não era gay. Com essas sábias palavras, ele conquistou a ira tanto da cúpula republicana quanto da comunidade gay norte-americana. Não lhe restava outra saída que não a renúncia. Na despedida, pediu desculpas ao sofrimento que causou à sua família e ao estado que representou por três mandatos.

O hilariante Larry Craig, ultraconservador, representa justamente o partido que inflige todo empeço possível ao casamento homossexual ou a quaisquer direitos a minorias votados (e derrotados) no glorioso Congresso estadunidense. Craig, embriagado em sua empáfia conservadora, esqueceu que ele próprio se inclui no grupo cujos direitos ajudou a revogar. Se esquece que as vítimas de suas sanções tiveram a mesma sensação na pré-adolescência; a mesma atração pelo gênero "errado"; o mesmo sentimento de exclusão alimentado pela sociedade retrógrada que o partido republicano ajuda a construir e a manter.

Dentre os republicanos há também outros casos hilários e intrigantes. O senador David Vitter, por exemplo, um valoroso defensor da moral familiar e dos bons costumes, foi forçado à renúncia após seu nome ser descoberto em um site de procura de "acompanhantes". Ou o deputado Mark Foley, que presidia um grupo dentro do Congresso responsável pela defesa de menores desaparecidos ou explorados. Sim, presidia, pois foi divulgado em rede aberta o conteúdo de linguagem sexual explícita de um de seus inúmeros emails endereçados a adolescentes. Do mesmo sexo, para fins de curiosidade.

A hipocrisia republicana não se detém nas questões de guerra, como podemos ver. Sou forçado a admitir – muito embora ainda esteja decepcionado com meu âmbito – que, graças à imprensa, a roupa suja começa a ser lavada com mais freqüência. No Congresso ou nos banheiros públicos.

Esses americanos são realmente hilários...

Chora Paris, choro eu.

Caminho só. Solitariamente embalado nos braços frios do vento parisiense. Já não trago o fascínio dos meus primeiros tempos nesta cidade, que certamente é uma das mães daquilo que convencionamos chamar de cultura ocidental.

Já não me importo tanto com esse amontoado de museus, avenidas largas e monumentos mais antigos que o meu país. A falta aguda que causas em mim soube sorrateiramente tomar conta dos meus pensamentos e uma a uma minhas saudades pela família, pelos amigos e pela minha terra cederam espaço a uma única e doída lembrança: a tua.

Não que eu sinta que tenha te perdido, pra falar a verdade nem penso nisso, sinto apenas que esses nove mil quilômetros e um oceano que nos separam me estão privando de ter-te aqui caminhando ao meu lado e pronunciando aquelas poucas palavras que conhecemos da língua de Proust, que por sinal, estudamos juntos.

Depois de percorridas estas ruas, regressarei. Como bom filho, à casa torno. Junto a mim irão estas lembranças e o conhecimento que ganhei – remoído e recordado só fará aumentar. Também levarei a saudade, que agora será de ti, Cidade Luz, e não daquela que deixei e que logo me trará o riso de volta.




Esse texto, magnífico, é da autoria de Felipe Martini, o Pepe – meu colega, meu amigo –, realizado para uma tarefa da aula de Português, onde compartilhamos histórias e escrevemos um sobre o outro.
Se queres ler mais coisas do Pepe, acesse seu blog: http://semeadura.blogspot.com/

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

De Gretsch a Sheratton

Estava um dia desses tocando e conversando sobre música com meu pai – monstro sagrado do rock'n'roll cruzaltense, com já disse anteriormente em algum espaço. Acontece que o homem em questão, João Carlos Heberle, um senhor de 53 anos, nunca passou o dedo em uma partitura e é o responsável por alguns dos solos mais do car**** que eu já ouvi ao vivo; e eu vi Clapton. Além disso, seu ritmo é preciso como o de um relógio dinamarquês, o que eu não herdei. Essa característica eu puxei dos antepassados da família da mãe, provavelmente um bando de alemães mal-humorados e workaholics, cujo maior contato musical foram alguns bailes kerb, com aquele ritmo tirolês que pode ser executado por uma criança de dois anos.

A família do pai não tocava nada, mas perpetuava algum talento latente. O pai deve ter sido de fato o primeiro músico dentre os Heberles. Sua carreira amadora começou ali por 1966. À época, meu saudoso vô Oscar, funcionário da Varig, fora promovido e se mudara para Nova York, a capital do mundo, where all was going on. Junto, a esposa, os três filhos e a sogra, porque as coisas não eram tão simples.

Seu filho mais velho, um rapaz de 13 anos, começou a fomentar um gosto por guitarras. Esse gosto foi incentivado pelo vizinho do novo lar nova-iorquino, o Mister Paccetta.

Mr. Paccetta era um homem corpulento, simpático. E emotivo, claro, como todo bom italiano. Seu filho Toni era daqueles que atirava beijo para as mulheres na rua e as pedia em casamento ("Marry me, ragazza, I love you!!"). Ambos tocavam guitarra. Ambos convenceram o vô a presentear o jovem Johnny Heberle com uma reluzente Gretsch Tennessean. Ambos passaram a ter o amor incondicional de Johnny desde então.

Armado, o pequeno Heberle pôde ir à luta. E não havia época melhor para isso. A década de 1960 foi a catapulta de Rolling Stones, The Who, Jimi Hendrix e muitos outros. Mas o que atraiu de imediato a atenção de Johnny foi aquele rock em Mi maior, com baixo e bateria muito bem marcados e três vozes cantando "She was a daaay tripper...". Era o que todo guri precisava para passar o dia inteiro tocando guitarra; ainda mais com uma Gretsch.

The boys from Liverpool eram a sensação do momento. Nunca se tinha ouvido nada parecido. O rock que Elvis e Carl Perkins faziam se resumia a um blues acelerado – os Beatles utilizaram-se bastante do Mi-Lá-Si7 de seus precursores, mas evoluíram mais e mais. John deu peso aos vocais; Paul, guitarrista de origem, mudou a maneira de se tocar baixo; George reinventou solos e acordes; e Ringo organizava tudo isso com precisão cirúrgica.

Some-se a isso as centenas de composições geniais e temos o resultado que se vê hoje, seja pela quantidade de álbuns vendidos ou pela atemporalidade de sua música. Música capaz de reunir, 40 anos depois, um pai e um filho em uma sala, violões em punho, tentando imitar os vocais de "Eight Days a Week".

O pai, após seu começo regado a Beatles e, posteriormente, a Led Zeppelin, Deep Purple e Pink Floyd, se aventurou por outros gêneros. E outros instrumentos – a Gretsch foi vendida antes de eu nascer, dando lugar a uma Stratocaster envenenada e depois a uma Epiphone Sheratton. O cara também toca, muito bem, piano e arranha alguma coisa de sopro.

Por que essa puxação de saco incessante?

O personagem do texto acaba de me presentear com um amplificador Marshall, novinho.

Frase da semana:

Malandro é o cavalo marinho, que se faz de peixe pra não puxar carroça.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Ônibus aéreos, acidentes e seus desdobramentos

13 de agosto de 2007. Quase um mês após o acidente com o Airbus da TAM em Congonhas.


E a cobertura começa a minguar.


Mesmo com a inoperância do governo, que faz pouco ou nada a respeito, a mídia como um todo parece estar se silenciando. O interesse no acidente aparentementeu extinguiu-se no momento em que foram revelados, em todos os meios de comunicação do país, os últimos instantes dos infelizes tripulantes do vôo 3054, registrados pela caixa-preta do A-320. Foi um espetáculo, um verdadeiro espetáculo. Tudo foi divulgado. As televisões trataram de reproduzir as falas do comandante e co-piloto com fidelidade dramática; os jornais, redigiram o diálogo inteiro, ipsis literis. E é assim, explorando esse sadismo doentio intrínseco à natureza humana, pisoteando em cadáveres – e, conseqüentemente, em seus familiares – que a mídia justifica sua fome por informação. Não interessa que o menino de oito anos, atônito, ouça o co-piloto agonizando, clamando a Deus por salvação. Tudo deve ser divulgado.

Mas o que pode fazer a mídia, um simples conglomerado de formadores de opinião?

Tudo. Como os três poderes não assumem exatamente a nobre função fiscalizadora estipulada por Montesquieu, o jornalismo vira uma espécie de estepe do legislativo. Especialmente se os deputados estão ocupados aumentando os próprios salários ou trocando de posição por dinheiro (o que lhes rendeu uma notável comparação com prostitutas elaborada pelo pessoal do Casseta e Planeta; na minha opinião uma ofensa às representantes do velho ofício). Tal qual um rígida professora de primário de 1930, é nosso dever verificar se o tema de casa está sendo feito.

Não é o que acontece. A cobertura pós-caixa-preta praticamente inexiste, considerando-se que não é rentável, e nesse ínterim, fatos importantes são ignorados. Apresento, humildemente, alguns:

O aeroporto mais novo do Brasil é o de Palmas, Tocantins. Data de construção: 1988. Mais velho do que muitos de meus amigos, estudantes universitários. Urge uma grande reforma, ou um novo aeroporto, ou uma linha de trens eficiente que ligue Guarulhos à capital São Paulo. Mas a decisão, qualquer que seja, tem de ser tomada logo. E quando algo for feito em São Paulo, que se faça algo no Rio, em Salvador, em Manaus... Mas logo. Ao contrário do que disse pouco antes da tragédia o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, talvez não seja uma boa idéia dobrar o turno de uma classe que trabalha sob tamanha carga de estresse como a dos controladores de vôo - não esqueçamos deles, por Deus. Também me parece inadequado o esforço da Infraero em transformar o Aeroporto Salgado Filho em um magnífico shopping center (cinema e tudo) quando há outras questões como as já anteriormente citadas em pauta; questões, às vezes, tão pouco discutidas. Algo precisa ser mostrado.

Mas não a agonia da aeromoça, pelo amor de Deus.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Outro...

Estou há muito tempo sem escrever nada neste espaço. Isso ocorre por dois motivos: uma agoniante falta de tempo ou uma pura, e não menos agoniante, falta de assunto. Portanto, como temas mediáticos poderiam me render uma sonora demissão ou seriam extremamente maçantes, terei de apelar ao futebol. Os gremistas que me desculpem.

E mais um se foi...

O nosso futebol foi dilacerado. Alexandre Pato, uma das maiores promessas brasileiras de todos os tempos, se foi. Pelo equivalente ao PIB de um país da América Central, é verdade, mas foi. Exagero? Novembro de 2006. Pato estréia fora de casa contra o Palmeiras. Em seu terceiro toque na bola, a um minuto e meio de jogo, gol. O que se seguiu no estádio que viu Ademir da Guia foi mais três gols, todos com a participação primordiosa do guri magrinho e rápido, muito rápido. Segundo jogo, outro gol, e a classificação à final do Mundial. Terceiro jogo, campeão mundial. Antes de contestar, pense no outro campeão mundial com 17 anos. É, esse mesmo.

A diferença é que os ídolos do passado ficavam anos no clube; Pato ficou meses. O débil futebol brasileiro, reflexo magnífico do país, não tem condições de negar uma cifra com mais de cinco zeros, mesmo com um talento de tal envergadura. Não quando está endividado até os olhos. E estamos falando de um gênio. Mais que isso, de um jogador completo. Sua capacidade de posicionamento, cabeceio, chute e velocidade é muito acima da média. Ah, ele não foi embora sorrateiramente, como aconteceu em casos recentes; deixou um rio de dinheiro ao clube. Mas isso não aplaca a dor no coração dos colorados, que rezavam para que outro Alexandre com sobrenome de ave fosse embora do Beira-Rio.

A qualidade do futebol de Pato é inversamente proporcional à sua oratória. Tudo o que diz ao final dos jogos é "fiz a minha parte, ajudei o professor e os companheiros", mas e daí? Dezessete anos é a idade. Dez milhões – de dólares – é o contracheque.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sobre Meninos e Ovelhas

Há uma semana, estou lendo um livro que o grande Eduardo Nunes (se ainda não ouviste falar dele, espera) me emprestou: Stupid White Men, do Michael Moore. Sim, ele mesmo, o gordo que usa boné e aterroriza a sociedade conservadora norte-americana.

Michael Moore é, antes de tudo, um cineasta. Seu aclamado documentário Tiros em Columbine lhe rendeu um Oscar que veio a coroar toda uma carreira de contestação ao sistema. Sua crítica aos poderosos sustenta-se por um meio poderoso: o humor, claro. Stupid White Men é o livro de um cineasta. Não o leias se queres literatura refinada; alguns até aconselhariam não lê-lo por se tratar de má literatura. Para mim, contudo, boa literatura vai muito além de um amontoado de verbos conjugados corretamente.

O livro trata de todo o tipo de podridão que uma sociedade capitalista pode expelir ou, pior, esconder. Os primeiros capítulos relatam a gigantesca fraude eleitoral deflagrada nas eleições à presidência estadunidense, que levaram à Casa Branca George W. Bush, o filho de George Bush pai, presidente na ocasião da Primeira Guerra do Iraque. Junior, Baby Bush, W., ou ladrão-chefe são apenas algumas das alcunhas que Moore usa para o "vencedor" das eleições, que está no cargo até hoje. A megaoperação - envolvendo membros da alta cúpula Yankee - roubou, acobertou e obteve apoio (ou omissão, que é a mesma coisa) do Judiciário norte-americano. Entretanto, Moore não aborda uma questão, talvez por fins editoriais ou simplesmente por não ser seu objetivo: quem foi o maior cúmplice da permanência do republicano na Casa Branca?

Ao ler esses primeiros capítulos, me interessei pelo tema e passei a pensar a respeito; o livro foi best-seller em vários países, no período exato em que o mundo passou justificadamente a odiar o menino mimado, cujo novo brinquedo era a liderança da maior potência de todos os tempos. A primeira edição foi lançada em 2001, um ano após as eleições e antes das guerras no Iraque e no Afeganistão, que mobilizaram definitivamente a opinião pública internacional contra a política militarista de Bush, Cheney e companhia. Ao receber o Oscar, em 2003, Moore disse "faço não-ficção em um país que numa eleição fictícia elegeu um presidente fictício que nos mandou para uma guerra fictícia". Em 2002, Stupid White Men foi o livro nº 1 na lista de mais vendidos do New York Times. Mas houve um pequeno problema.

Bush foi reeleito.

O motivo do fracasso de todo o esforço de Michael Moore pode ser explicado por ele mesmo; mais tarde, após toda a oposição a Bush, o autor critica duramente também os democratas e todas as suas medidas reacionárias. Não há muita diferença entre as duas maiores facções políticas estadunidenses. Um democrata talvez também mantivesse as tropas no Iraque, cortasse os gastos com educação e saúde, violasse o Protocolo de Kyoto, desrespeitasse a ONU e financiasse projetos de bombas nucleares. Algumas medidas extremamente conservadoras de Bill Clinton têm atenção especial no livro. O conservadorismo é amplamente majoritário no país, apenas se esconde às vezes na pele da ovelha liberal, como diz Moore.


Mesmo sem produzir o efeito desejado, o livro é muito interessante e eu recomendo. Política não é o único tema abordado; também são discutidos meio-ambiente, questões raciais e sociais, machismo, entre outros problemas sérios, tratados com muito humor e uma crítica ferrenha. Moore é um chato - ele coloca o dedo na ferida, e certamente irritou muita gente com isso. Sua determinação em achar e eliminar todos os problemas do planeta (ou dos EUA, o que às vezes é a mesma coisa) acaba dando ao livro um ar misto de descontração e desconforto. No mais, é interessante perceber que há vida inteligente e consciente dentro do país que, infelizmente, governa o mundo. O escrachado humor norte-americano parece muito melhor quando usado para auto-crítica.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Pois é...

Agora eu tenho um blog.

Por quê?

Não sei ao certo. Sempre gostei de escrever, mas nunca tinha tido coragem - ou saco - suficiente para me aventurar por esta selva já violada, desmatada e pisoteada por todo o tipo de pessoas, letradas ou não; com a Internet, todos somos escritores, seja isso bom ou ruim. Neste caso, tu provavelmente lerás um conjunto de lamúrias de um estudante de jornalismo em crise. Ou de um otimista incurável, dependendo do dia e do resultado do Internacional na rodada. Quem vai ler? Meus amigos, minha namorada... minha família, talvez. O fato é que eu sempre lidei com as palavras e lidarei até o último de meus dias, porque o INSS não tem sido legal com jornalistas. Os jornais também não. Na verdade, ninguém tem sido. "These are dangerous times for rock'n'roll", já diria Lester Bangs.

Mas há esperança! Convenhamos, o mercado é ruim para todo mundo... Quem nunca quis sair às ruas, microfone em punho, entrevistando transeuntes para depois voltar à redação onde tem aquele monte de pessoas que têm muito mais que quinze minutos de fama?! Uma redação inteira ganha em um ano o que as outras pessoas que aparecem na TV ganham em um mês, mas e daí? O que conta é a visibilidade. Ânimo, gente! O Dólar está baixando, Bush não vai ser reeleito (até porque não vai concorrer) e o pessoal do Senado não pode ser tão ruim assim.

Qual é a saída? Mônica Veloso mostrou à categoria uma opção com a qual não simpatizo muito, mas foi uma tentativa! Uma salva de palmas a ela, mas o que posso fazer eu, que não tenho um belo rosto bronzeado ou um útero? Ah, Diário Gaúcho, Tititi e Capricho também não são exatamente o que eu tinha em mente, mas qualquer conselho será analisado com carinho. Me diz, tu que vais comentar, se souberes de algo.

E rápido, por favor.