segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Ônibus aéreos, acidentes e seus desdobramentos

13 de agosto de 2007. Quase um mês após o acidente com o Airbus da TAM em Congonhas.


E a cobertura começa a minguar.


Mesmo com a inoperância do governo, que faz pouco ou nada a respeito, a mídia como um todo parece estar se silenciando. O interesse no acidente aparentementeu extinguiu-se no momento em que foram revelados, em todos os meios de comunicação do país, os últimos instantes dos infelizes tripulantes do vôo 3054, registrados pela caixa-preta do A-320. Foi um espetáculo, um verdadeiro espetáculo. Tudo foi divulgado. As televisões trataram de reproduzir as falas do comandante e co-piloto com fidelidade dramática; os jornais, redigiram o diálogo inteiro, ipsis literis. E é assim, explorando esse sadismo doentio intrínseco à natureza humana, pisoteando em cadáveres – e, conseqüentemente, em seus familiares – que a mídia justifica sua fome por informação. Não interessa que o menino de oito anos, atônito, ouça o co-piloto agonizando, clamando a Deus por salvação. Tudo deve ser divulgado.

Mas o que pode fazer a mídia, um simples conglomerado de formadores de opinião?

Tudo. Como os três poderes não assumem exatamente a nobre função fiscalizadora estipulada por Montesquieu, o jornalismo vira uma espécie de estepe do legislativo. Especialmente se os deputados estão ocupados aumentando os próprios salários ou trocando de posição por dinheiro (o que lhes rendeu uma notável comparação com prostitutas elaborada pelo pessoal do Casseta e Planeta; na minha opinião uma ofensa às representantes do velho ofício). Tal qual um rígida professora de primário de 1930, é nosso dever verificar se o tema de casa está sendo feito.

Não é o que acontece. A cobertura pós-caixa-preta praticamente inexiste, considerando-se que não é rentável, e nesse ínterim, fatos importantes são ignorados. Apresento, humildemente, alguns:

O aeroporto mais novo do Brasil é o de Palmas, Tocantins. Data de construção: 1988. Mais velho do que muitos de meus amigos, estudantes universitários. Urge uma grande reforma, ou um novo aeroporto, ou uma linha de trens eficiente que ligue Guarulhos à capital São Paulo. Mas a decisão, qualquer que seja, tem de ser tomada logo. E quando algo for feito em São Paulo, que se faça algo no Rio, em Salvador, em Manaus... Mas logo. Ao contrário do que disse pouco antes da tragédia o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, talvez não seja uma boa idéia dobrar o turno de uma classe que trabalha sob tamanha carga de estresse como a dos controladores de vôo - não esqueçamos deles, por Deus. Também me parece inadequado o esforço da Infraero em transformar o Aeroporto Salgado Filho em um magnífico shopping center (cinema e tudo) quando há outras questões como as já anteriormente citadas em pauta; questões, às vezes, tão pouco discutidas. Algo precisa ser mostrado.

Mas não a agonia da aeromoça, pelo amor de Deus.

Um comentário:

Redação UBPC disse...

Boa, Peter.

mas não te preocupa... depois tudo deverá piorar.

e não espere que nenhum dos 4 poderes aja pelo bem. No fim das contas, somos apenas mais uns tijolos no muro.